ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 27 DE ABRIL DE 2021 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Os jornais e livros antigos sobre
Barretos revelam muito mais do que aparentam; deixam escapar desabafos e
indignações. Neles, uma característica sempre me chamou a atenção: o uso das
expressões “mentalidade bovina”, “bovinismo” e “mentalidade de cimento armado”.
A última foi grafada, em tom de desabafo, pelo escritor Osório Rocha em seu
“Barretos de Outrora”, e a primeira encontra-se em algumas edições da imprensa,
especialmente o “Correio de Barretos”.
A
tal “mentalidade bovina” é uma inteligente metáfora usada para descrever o
conservadorismo de certas classes barretenses – em principal, parte de uma
poderosa elite – que, avessas às mudanças, engessavam processos que poderiam
trazer novidades, modernidade e abalar a ordem social. A intenção dos adeptos
ao bovinismo, portanto, era não apoiar iniciativas “ousadas” em nome de
moralismo (ou de nada).
Como exemplo, dois episódios
interessantes denunciam a tal mentalidade bovina, ambos envolvendo a Educação
em Barretos. O primeiro, em 1931, a partir da criação do Ginásio Municipal de
Barretos, cuja instalação foi encabeçada por Osório Rocha com a “Sociedade
Escolas de Barretos”. Na época, existiram figurões que foram contrários à
criação da primeira escola secundária de Barretos; para eles, quem quisesse
estudar depois do 4º ano, a opção seria Bebedouro. Em situação parecida,
pulando para 1964, a origem da Fundação Educacional de Barretos, a primeira
instituição de ensino superior na cidade, também passou intemperes do bovinismo
(somado a rivalidades políticas), que achava desnecessária e impossível a vinda
de professores de “tão longe”.
Tratando-se de Barretos, a tal
mentalidade foi denominada “bovina” em alusão à pecuária e ao gado tangido,
imortalizando uma característica da nossa própria origem. O problema foi a
perpetuação dessa mentalidade ao longo das décadas e, pior, na contramão das
ações intelectuais modernas e de projetos tão sólidos como a Educação. E não é
de se espantar que ela ainda apareça por aqui. Habemus.
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