segunda-feira, 31 de maio de 2021

MARÇO DE 1964

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 30 DE MARÇO DE 2021 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS  

            Em 13 de março de 1964, ao discursar na Praça da República no Rio de Janeiro, no “Comício da Central”, João Goulart (Jango), presidente da República, defendia a implantação das suas Reformas de Base a fim de promover justiça social e reforma agrária no Brasil. Temas que foram traduzidos pelos mais conservadores, num senso comum, em “transformar o Brasil em um país comunista e ateu”. A resposta não tardou, no dia 19, na capital paulista, 500 mil pessoas circularam numa marcha finalizada na Catedral da Sé, batizada de “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, solicitando a saída de Jango, um governo cristão e a intervenção do Exército. Através dos jornais, o evento foi convocado por associações religiosas, cívicas, anticomunistas, partidos opositores e entidades femininas como a “União Cívica Feminina” e a “Campanha da Mulher pela Democracia”. A presença das mais de cem entidades cívicas, do clero e de políticos sagrou o movimento como um aval civil para o alto escalão das Forças Armadas tomar o poder na República; fato que se consolidou no dia 31.

            Durante a marcha, as faixas estampavam os pedidos: “Comunismo não, Democracia sim”; “Lutaremos pela Constituição”; “Reformas com o Congresso”; como se somente um governo militar fosse capaz de livrar o país de um suposto comunismo e garantir a democracia. O fato é que a partir de abril, com a consolidação do golpe de 1964, a República no Brasil passou a ser gerida por militares e não havia democracia e nem Congresso. Foram 21 anos de engessamento democrático.

            Mesmo com a História à mostra e o exército brasileiro sendo legalista, ainda existem (poucas) pessoas que defendem a tal “intervenção militar” e governantes que deliram quanto a um exército pronto a defender a democracia; como se ela estivesse ameaçada. O delírio coletivo de 1964 usou do discurso democrático como falácia para ferir a Constituição e isso o Brasil não esqueceu. Março de 1964 não entrou à História pelas águas que fecharam o verão, mas sim pela tempestade que estava por vir.

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