segunda-feira, 31 de maio de 2021

POR DETRÁS DOS LETREIROS

 ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 19 DE JANEIRO DE 2021 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS    

            Caminhar pelo centro da cidade de Barretos pode ser uma viagem no tempo; se olhos sensíveis você tiver, evidente. A paisagem que hoje verticaliza-se no calçadão e ao seu entorno é de prédios comerciais dotados de letreiros, cada qual numa cor e propaganda diferente. A intenção dessas placas é denominar a loja e chamar a atenção dos consumidores, mas, para quem enxerga “além”, a real função delas é cobrir a beleza dos estilos arquitetônicos que um dia enfeitavam e traduziam a modernidade das épocas. A atual vista se assemelha a uma poluição nos olhos, onde cores fortes e letras disformes parecem brigar pela atenção do nosso pensamento.

            O centro da cidade nasceu ao redor da Matriz, e, desde o começo do século XX, residências e comércios ali se instalaram timidamente. Em certos momentos, o centro parecia um mosaico onde lado a lado poderia existir o que havia de mais moderno com o que existia de mais antigo. E mais, as fachadas eram límpidas. A competição pela atenção era no concreto, no gesso, na telha e na cor que se recaia sob as estruturas. Os olhos das pessoas que transitavam no centro não brigavam com letreiros, e sim passeavam livremente pelos traçados arquitetônicos ora retilíneos, ora curvos.

            Com este raciocínio, a impressão que se tem é que o passado era um tempo maravilhoso, onde tudo era perfeito. E sabemos que não é assim. Esse tipo de visão genérica somente faz romantizar questões que, na realidade, são complexas. Mas, para além disso, a reflexão deve ser voltada sobre o quanto precisamos preservar a nossa cultura material, seja através da arquitetura, dos objetos ou de qualquer outra fonte que nos remeta ao passado que a cidade vivenciou. Independente se gostamos, se temos vergonha, se achamos bonito ou feio, o fato é que o presente é uma sucessão do passado, e estamos aqui para questioná-lo e conhece-lo. Conhecer, não reviver. Todavia, como conhecer se nem ao menos podemos enxergar os vestígios dos tempos idos, já que o presente insiste em nos confundir com tanta poluição visual? Fica a reflexão.

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