ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 2 DE MARÇO DE 2021 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Certamente você já ouviu essa
expressão, mas, talvez não saiba que ela se oficializou durante a Gripe
Espanhola de 1918, terrível pandemia. Nos tempos atuais, não é estranho
imaginar que a Espanhola dilacerou a população a ponto de superlotar os
hospitais e causar pânico no povo; afinal, morriam dos mais velhos às crianças.
Inclusive, no Rio de Janeiro, a gripe ficou conhecida inicialmente como “limpa
velhos” pela dedução de que ela mataria somente a população idosa. (Te lembra
algo?).
O “chá da meia-noite” foi uma
expressão popular cunhada durante a terrível Gripe, por conta do caos que
pairava na Santa Casa de Misericórdia do RJ – batizada, então, como “Casa do Diabo”.
A péssima higiene, a falta de leito e a assustadora quantidade de mortos eram estampadas
nos jornais e alimentavam o fecundo imaginário da população. Solo fértil para a
lenda urbana do temível chá se alastrar.
Contava
o boato que para desocupar os leitos, já que novos pacientes não paravam de
chegar, por volta da meia-noite era servido um “chá” aos doentes desenganados; e
no outro dia, todos estavam mortos. O chá seria, portanto, um veneno letal, e a
lenda uma maneira popular de falar sobre a eutanásia. É provável que isso não
tenha ocorrido de fato, porém, a lenda era tão vigente, que, no carnaval de
1919, cuja celebração é considerada a mais “louca” da história – já que as
pessoas celebravam o fim da pandemia de uma maneira desordeira e até violenta, o
“chá da meia-noite” foi transformado num carro alegórico com uma grande xícara
e virou tema de marchinha, desfiles, bailes e bloco carnavalesco.
Ainda
mais interessante é que em nossa região, durante a epidemia de Febre Amarela em
São Simão, entre 1896 e 1905 (antes da Espanhola), existiram relatos acerca de
sobreviventes que teriam se livrado de um “chá” servido à noite aos pacientes
internados no Lazareto. Outra lenda urbana do imaginário humano, “fake news
das antigas” ou uma suposta verdade? É melhor não pensar sobre isso nestes
tempos.
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