segunda-feira, 31 de maio de 2021

Barretos e seus ecos

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 23 DE MARÇO DE 2021 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS       

Poeta, jornalista, dramaturgo e escritor, José Dias Leme viveu e trabalhou em Barretos entre 1915 e 1922; época em que a cidade ensaiava seu desenvolvimento graças a pecuária. Período interessante de ser estudado, pois, por mais que Barretos já fosse um importante município paulista no ramo pecuário e industrial, por conta do frigorífico, no aspecto urbano era ainda uma vila com poucos casarões ao centro, terrenos, ruas disformes e nem sempre asfaltadas. Íntimo das palavras, Dias Leme, em 1946, palestrou na União contando suas memórias. Dizia ele:

“O trem de bitola estreita chegava quase às 22 horas, cuspindo fagulhas e ao longe se anunciava com apitos estridentes. Não havia calçamento e sim poucas calçadas com passeios, e a poeira asfixiava os transeuntes e enxovalhava os moveis e as roupas. As ruas se afeiavam com casebres de tábua ou pau a pique, sem conforto nem alegria. As únicas distrações eram os concertos da ‘Orfelina’, aos domingos, no coreto da Praça Francisco Barreto, e as sessões de cinema mudo empresado pelo Martinelli. As vezes, umas procissões para quebrarem a monotonia da vida. O mais, eram tiroteios, assassinatos e a vida alegre dos lupanares dando um característico brejeiro à cidade, enquanto a política fervia com as quizilas dos ‘Araras’ e dos ‘Picapaus’”.

Esta narrativa, que mais parece um roteiro de novela de época, transporta a nossa imaginação à monotonia de uma cidade sertaneja, cujas distrações eram as procissões, o cinema e a banda. No entanto, a pasmaceira era quebrada pelos ecos da política acirrada, dos crimes rotineiros e dos cabarés; no geral, essas três características (política, crime e prostituição) estavam atreladas, já que seus protagonistas eram os mesmos: homens que ocupavam cargos políticos e de poder. Neste período, a cidade tinha fama de “boca do sertão” por ser a última cidade da linha férrea da Paulista, distante da capital, e por estampar notícias de crimes bárbaros na grande imprensa.

Essa era nossa Barretos, tão próspera, tão violenta e tão sertaneja.

Nenhum comentário: