ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 23 DE MARÇO DE 2021 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Poeta,
jornalista, dramaturgo e escritor, José Dias Leme viveu e trabalhou em Barretos
entre 1915 e 1922; época em que a cidade ensaiava seu desenvolvimento graças a
pecuária. Período interessante de ser estudado, pois, por mais que Barretos já
fosse um importante município paulista no ramo pecuário e industrial, por conta
do frigorífico, no aspecto urbano era ainda uma vila com poucos casarões ao
centro, terrenos, ruas disformes e nem sempre asfaltadas. Íntimo das palavras,
Dias Leme, em 1946, palestrou na União contando suas memórias. Dizia ele:
“O
trem de bitola estreita chegava quase às 22 horas, cuspindo fagulhas e ao longe
se anunciava com apitos estridentes. Não havia calçamento e sim poucas calçadas
com passeios, e a poeira asfixiava os transeuntes e enxovalhava os moveis e as
roupas. As ruas se afeiavam com casebres de tábua ou pau a pique, sem conforto
nem alegria. As únicas distrações eram os concertos da ‘Orfelina’, aos
domingos, no coreto da Praça Francisco Barreto, e as sessões de cinema mudo
empresado pelo Martinelli. As vezes, umas procissões para quebrarem a monotonia
da vida. O mais, eram tiroteios, assassinatos e a vida alegre dos lupanares
dando um característico brejeiro à cidade, enquanto a política fervia com as
quizilas dos ‘Araras’ e dos ‘Picapaus’”.
Esta
narrativa, que mais parece um roteiro de novela de época, transporta a nossa
imaginação à monotonia de uma cidade sertaneja, cujas distrações eram as
procissões, o cinema e a banda. No entanto, a pasmaceira era quebrada pelos ecos
da política acirrada, dos crimes rotineiros e dos cabarés; no geral, essas três
características (política, crime e prostituição) estavam atreladas, já que seus
protagonistas eram os mesmos: homens que ocupavam cargos políticos e de poder. Neste
período, a cidade tinha fama de “boca do sertão” por ser a última cidade da
linha férrea da Paulista, distante da capital, e por estampar notícias de
crimes bárbaros na grande imprensa.
Essa
era nossa Barretos, tão próspera, tão violenta e tão sertaneja.
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