segunda-feira, 31 de maio de 2021

A Febre Amarela em São Simão

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 23 DE FEVEREIRO DE 2021 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS               

            São Simão, de 196 anos, cidade antiga próxima a Ribeirão Preto, em sua História viveu ondas epidêmicas de Febre Amarela que assolaram a população entre 1896 a 1905. O município fazia parte do roteiro do oeste paulista cafeeiro, era uma vila próspera com imensas fazendas de café, trabalhadores italianos, mineiros e fluminenses. Possuía estação ferroviária para transporte de sua atividade econômica e de passageiros, sendo essa a principal via de contaminação e propagação da doença.

            Em 1896 teve o primeiro e mais assustador surto; dos 4000 habitantes, 800 morreram. 1/5 da população morta! A grande quantidade de doentes e de mortos aliada ao medo do contágio repercutiram na criação de um cemitério distante, no distrito de Bento Quirino. Ali perto, abriu-se um hospital para abrigar os doentes, o Lazareto. A população não conhecia a doença e a sua transmissão, apesar dos surtos em Campinas e Sorocaba. Naquele hospital, atuavam um destemido ex-escravizado, Benedito Geraldo, que levava os mortos de lá para o cemitério, e o médico José Vieira Neto Leme. Foi este médico quem denunciou ao governo do estado a calamidade na cidade, uma vez que os vereadores e o Intendente tentavam esconder e negar a realidade temendo uma desvalorização das terras e a perda do poder político. (Conhecem essa história?). Foi então que, o governo estadual enviou à funesta São Simão o sanitarista Emílio Ribas, que, depois de experimentos na população, verificou que a transmissão não se dava pelos fluídos e sim pelo mosquito Aedes Aegypti. Esses estudos chamaram a atenção do sanitarista Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, cidade também arrasada pela Febre, e contribuíram para o sucesso da vacina em 1907.

            Não é surpreendente dizer que, pelo negacionismo político, São Simão deflagrou-se no desenvolvimento, pois parte da população foi morta e outra fugiu para cidades como Ribeirão Preto (que tanto prosperou com o mesmo café). Foi a Febre ou a ignorância política que exauriu a cidade? É de se pensar, no presente, inclusive.

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