ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 8 DE JULHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI
A memória paulista relembra neste
ano os oitenta anos da Revolução Constitucionalista de 1932, que se iniciou em
9 de julho e terminou em 2 de outubro do mesmo ano. Durante todos os anos que
se sucederam à revolução de 1932, recordações e homenagens aos soldados
constitucionalistas têm tido espaço no mês de julho. O “9 de julho” foi por
tantas vezes aclamado um dia de “glória” a São Paulo que até se tornou a “Data
Magna” do estado. A história da “Revolução de 1932”, ao longo destes oitentas
anos, foi escrita de maneiras diferentes e seria interessante rever algumas
delas.
Por vezes, encontram-se autores que
relatam a “Revolução Constitucionalista” de 1932 como um fato marcante na
história paulista e adjetivado de glórias, conquistas e sentimentos de
superioridade perante os outros estados. Isto se fez, principalmente, através
do discurso “bandeirante” que foi muito utilizado nas décadas de 30 a 50. Para
uns, o início da revolução era o retorno da era bandeirante, quando São Paulo
adentrou o interior do Brasil para povoá-lo e, por isso, teria sido o estado
responsável pelo desenvolvimento do país. Como a revolução de 1932 tinha como
lema a “reconstitucionalização” do Brasil, era como se, novamente, São Paulo
tivesse lutando em nome de uma causa maior, do bem comum ao país.
Sobre o acontecimento de 1932, existem
muitas dissertações, teses e monografias atuais a respeito do desenrolar da
revolta, principalmente, nos âmbitos locais. Cada cidade paulista teve sua
participação que se tornou peculiar à história das localidades. Deste modo,
falar sobre a escrita da história da Revolução de 1932 nos dias de hoje é algo
muito mais complexo e difícil de generalizar. Mas, o que mais se tem visto nos
livros, em principal os didáticos, é uma história paulista menos adjetivada,
com restrições aos fatos, as “glórias” paulistas, e mais voltada à participação
do povo, ao cotidiano e à memória que ainda vive dos soldados.
Nos dias atuais, a história da Revolução
de 1932 disserta mais a respeito do motivo político que estava em jogo naquela
ocasião. Ao analisar o contexto da década de 20, percebe-se que a oligarquia
paulista que, junto a Minas Gerais, dominou todo o cenário político do Brasil
na Primeira República, estava perdendo o poder. Com o início da Era Vargas, a
elite paulista necessitava de ter mais espaço na política, principalmente por
causa da produção cafeeira que estava em declínio. Além disso, é claro que o
motivo da volta da constituição que Vargas havia suprimido em seu governo ditatorial
também era evidente nas reivindicações dos paulistas.
Cá estamos, oitenta anos depois daquele
9 de julho de 1932 que tanto foi motivo para “glorificar” os paulistas na
história. Uma história que não é mais escrita como naquela época, afinal o próprio
modo de escrevê-la torna-se diferente conforme a visão do momento presente. Que
a cada ano, a história da Revolução Constitucionalista possa ser mais revisada,
pesquisada e rememorada na eterna intenção de descongelar o passado.
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