sábado, 29 de setembro de 2012

UM MONUMENTO HISTÓRICO

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 19 DE AGOSTO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            Há quem se lembre em Barretos de um antigo busto que ficava na Praça Francisco Barreto próximo à catedral. Este monumento, além dos símbolos inscritos em si próprio, possui interessantes passagens que fizeram parte da história da cidade. Como todo monumento, ele foi retratado com um propósito para ficar à posteridade, como um símbolo de algo que era valorizado na época em que foi criado e que representava uma dada ideologia. Os monumentos geralmente são criados para eternizar certas passagens da história e, por esse motivo e pelas reflexões que podem ocasionar, deveriam ser sempre preservados. Esta preservação não é somente uma questão de respeito com o passado, mas é também a construção da nossa própria história, daquilo que foi vivido pelos antepassados e que hoje ainda se mantém. Trata-se da aceitação da nossa própria memória.
            Muitas pessoas na cidade ainda pensam que o busto que ficava na praça central era a representação da Princesa Isabel de Órleans e Bragança, aquela que assinou a lei de libertação dos escravos. Talvez pela aparência e pela significação dessa princesa na história do Brasil, a informação de que o busto era de Isabel passou de geração em geração. Quando na verdade, o que aquele símbolo representava era justamente o contrário do que uma figura monárquica, era a encarnação da República!
            A República foi representada por uma figura feminina desde os tempos da Revolução Francesa no final do século XVIII. Para representar o governo contrário a monarquia (representada geralmente por homens/reis), a figura feminina chamada de “Marianne” foi usada como símbolo da República por vários países, inclusive o Brasil. Este, cem anos depois da Revolução Francesa, em 1889, proclamou a República como novo sistema político do país e a partir de então a representação da República sempre era a de uma mulher. Tal como o busto que ficava no praça Francisco Barreto.
            Era o ano de 1922 quando o busto foi colocado na praça em Barretos, no governo municipal do dr. Antonio Olympio. A ocasião era o “Centenário da Independência do Brasil” (1822-1922) e para tal homenagem foi colocado o busto da República. Um tanto contraditório não é mesmo?! Afinal, a independência do Brasil representou nada mais do que a instalação da monarquia no Brasil, e o busto simbolizava justamente o contrário. Pois, além de demonstrar a figura feminina da República (Marianne), possuía também em sua imagem um barrete frígio (touca utilizada pelos revolucionários franceses), o lema republicano brasileiro “Ordem e Progresso”, a figura de um homem se libertando das algemas e o rosto de Tiradentes (tido como o herói da nação nos tempos da República).    
              No mesmo ano em que o busto foi colocado na praça, uma réplica foi instalada no salão principal do Paço Municipal (hoje Museu “Ruy Menezes”). Até hoje esta réplica se encontra no museu, assim como o busto que foi retirado da praça, mas que infelizmente não está em perfeitas condições. Um símbolo que mais queria demonstrar que Barretos era uma cidade “moderna” por ser partidária dos ideias republicanos, do que comemorar a independência do Brasil. Tantas histórias num único monumento... Apreciemos.

Referências: Doutorado de H. Perinelli Neto (2009), e artigo de Ruy Menezes (1992).

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