ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 19 DE AGOSTO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI
Há quem se lembre em Barretos de um
antigo busto que ficava na Praça Francisco Barreto próximo à catedral. Este
monumento, além dos símbolos inscritos em si próprio, possui interessantes
passagens que fizeram parte da história da cidade. Como todo monumento, ele foi
retratado com um propósito para ficar à posteridade, como um símbolo de algo
que era valorizado na época em que foi criado e que representava uma dada
ideologia. Os monumentos geralmente são criados para eternizar certas passagens
da história e, por esse motivo e pelas reflexões que podem ocasionar, deveriam
ser sempre preservados. Esta preservação não é somente uma questão de respeito
com o passado, mas é também a construção da nossa própria história, daquilo que
foi vivido pelos antepassados e que hoje ainda se mantém. Trata-se da aceitação
da nossa própria memória.
Muitas pessoas na cidade ainda
pensam que o busto que ficava na praça central era a representação da Princesa
Isabel de Órleans e Bragança, aquela que assinou a lei de libertação dos
escravos. Talvez pela aparência e pela significação dessa princesa na história
do Brasil, a informação de que o busto era de Isabel passou de geração em
geração. Quando na verdade, o que aquele símbolo representava era justamente o
contrário do que uma figura monárquica, era a encarnação da República!
A República foi representada por uma
figura feminina desde os tempos da Revolução Francesa no final do século XVIII.
Para representar o governo contrário a monarquia (representada geralmente por
homens/reis), a figura feminina chamada de “Marianne” foi usada como símbolo da
República por vários países, inclusive o Brasil. Este, cem anos depois da
Revolução Francesa, em 1889, proclamou a República como novo sistema político
do país e a partir de então a representação da República sempre era a de uma
mulher. Tal como o busto que ficava no praça Francisco Barreto.
Era o ano de 1922 quando o busto foi
colocado na praça em Barretos, no governo municipal do dr. Antonio Olympio. A
ocasião era o “Centenário da Independência do Brasil” (1822-1922) e para tal
homenagem foi colocado o busto da República. Um tanto contraditório não é
mesmo?! Afinal, a independência do Brasil representou nada mais do que a
instalação da monarquia no Brasil, e o busto simbolizava justamente o
contrário. Pois, além de demonstrar a figura feminina da República (Marianne),
possuía também em sua imagem um barrete frígio (touca utilizada pelos
revolucionários franceses), o lema republicano brasileiro “Ordem e Progresso”,
a figura de um homem se libertando das algemas e o rosto de Tiradentes (tido
como o herói da nação nos tempos da República).
No mesmo ano em que o busto foi colocado na praça, uma réplica foi
instalada no salão principal do Paço Municipal (hoje Museu “Ruy Menezes”). Até
hoje esta réplica se encontra no museu, assim como o busto que foi retirado da
praça, mas que infelizmente não está em perfeitas condições. Um símbolo que
mais queria demonstrar que Barretos era uma cidade “moderna” por ser partidária
dos ideias republicanos, do que comemorar a independência do Brasil. Tantas
histórias num único monumento... Apreciemos.
Referências:
Doutorado de H. Perinelli Neto (2009), e artigo de Ruy Menezes (1992).
Nenhum comentário:
Postar um comentário