ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 3 DE JUNHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI
No último dia 26, o Centro Cultural
“Osório Faleiros da Rocha” foi honrado com a encenação da peça teatral “Ossos
do Barão” de autoria do barretense Jorge Andrade. A peça, que na verdade
finalizou a semana em comemoração dos 90 anos de Jorge, foi encenada pela
Companhia “...” de São Paulo. Tratava-se de uma comédia muito interessante,
que, aos olhos de uma professora, tornou-se uma bela aula de história, bem
dinâmica por sinal. Deste modo, vou comentar sobre a peça de acordo com o que
ficou na minha memória, diante aquilo que soou como mais relevante.
“Ossos do Barão” sintetiza a
situação da capital paulista em meados do século XX, quando alguns fazendeiros
faliram por conta da crise de 1929 (dentre outras coisas), e, outros, porém,
enriqueceram-se com o advento da indústria. O que a peça narra, brilhantemente,
é a perpetuação dos títulos e dos nomes e sobrenomes das famílias dos
tradicionais barões da época do café. Na ocasião do 4º Centenário de São Paulo,
estes indivíduos “tradicionais” ficaram conhecidos como “quatrocentões” em
alusão à continuação das mesmas famílias que desde a época da fundação de São
Paulo ainda permaneciam na cidade, talvez não com o mesmo prestígio financeiro,
mas com a tradição consanguínea ainda corrente. Ao menos, era assim que
pensavam.
A peça tem um cenário maravilhoso de
uma casa antiga, da época de um barão de café (o barão de Jaraguá), que foi
comprada por um italiano industrial que enriquecera como colono na fazenda
deste barão, o sr. Egisto Giotto (o personagem mais cômico). Esta situação
mostra muito claramente a falência de muitos antigos fazendeiros e a ascensão
de colonos imigrantes que vieram para “ganhar a América”. Tanto que, mesmo com
móveis luxuosos e antiquíssimos, o aparato principal da sala da casa do
italiano, eram dois rastelos e duas peneiras de café. Este italiano, que
comprara quase tudo do antigo barão, tinha a intenção de unir as famílias.
Tanto que, por meio de cômicas cenas, tenta unir seu filho, Martino, com a
bisneta do barão, Isabel Pompeu. Estes dois jovens, porém, representavam o
pensamento mais moderno, uma vez que não ligavam para o tradicionalismo dos
nomes das famílias.
Passam-se dois anos e Martino e
Isabel se casam, e tornam-se pais de um menino. O fim do teatro é o batizado deste
menino, onde são convidados o tio e as tias “quatrocentonas” de Isabel, que
demonstram vêemente a decepção do menino ganhar o nome italiano do avô e não
aderir ao sobrenome “tradicionalíssimo” da família (que estava ali em São Paulo
desde os tempos da caravela). É muito interessante ver o desenrolar desta
história, onde sempre é tocada esta questão da “tradição do nome” dos antigos
fazendeiros (mesmo que falidos) e o enriquecimento de alguns colonos. Sendo
válido notar que, esta questão da tradição também pode ser encarada como uma
crítica à propriedade de terra que sempre foi concentrada no Brasil, afim de
expor que uma mesma família era dona das terras por séculos e séculos. Afinal,
mesmo com o advento da industrialização e da modernidade, propriedade e família
eram questões de “honra”.
Enfim, a peça de Jorge Andrade é
muito mais do que estas poucas linhas. Mesmo assim é possível perceber como o
dramaturgo conseguiu utilizar da história como um veículo de informação e pano
de fundo para o teatro. E o melhor, para uma comédia! Uma bela aula de
história. Jorge Andrade, se não fosse dramaturgo, poderia ser historiador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário