sábado, 29 de setembro de 2012

FUTEBOL: DA ELITE AO POVO

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 10 DE JUNHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            É vísivel a paixão que o brasileiro até hoje nutre pelo futebol. Mesmo sendo originário da Inglaterra, esta modalidade esportiva se adaptou à cultura brasileira e hoje é praticamente um “símbolo” quando se fala em “Brasil”. Isto porque, o futebol é um esporte de massa, acessível ao brasileiro desde a infância e praticado por muitos, mesmo que amador. Mas, será que sempre foi assim? Sempre foi um esporte popular?
            O “pai do futebol brasileiro” foi Charles Miller, filho de um industrial inglês, que, depois de uma temporada de estudos na Inglaterra, trouxe o futebol para o Brasil. Miller foi responsável pela introdução do futebol competitivo no país e das regras do jogo, fatores essencias para a sua expansão. A partir de então, o futebol passou a ocupar um patamar de “diversão” à elite brasileira (aquela ligada a região sudeste, mais próspera na economia). A elite inglesa (industrial) e a cafeeira (agrária), principalmente a de São Paulo, passaram a ter mais um espaço de confraternização nos jogos de futebol. Com o incentivo de Oscar Cox, surgiram as primeiras ligas e clubes de futebol no RJ (“Fluminense”, 1902) e em SP (“Paulistano”, que na década de 30 deu origem ao atual São Paulo F. C.).            
            Reuniam-se homens e até mulheres em estádios armados para assistir jogos amadores de futebol. Ali eram os espaços de sociabilidade da elite, um verdadeiro passatempo. E a presença feminina na platéia afirmava bem esta característica elitista do futebol primitivo no Brasil. Em Barretos, isto não foi diferente, o primeiro clube futebolístico foi montado em 1907, mas, vários campeonatos amadores eram realizados na cidade, principalmente alguns em prol de instituições de caridade como a Santa Casa. É só observar as expressões de “modernidade” utilizadas numa reportagem da época: “Alcançou real sucesso o grande festival esportivo, em bôa hora lembrado pela senhorita Caridosa, e que se realizou no domingo ultimo, a tarde, no Estadio do Barretos Futebol Clube em beneficio da Santa Casa de Misericórdia desta cidade. Ás 14 horas, já estavam replectas as archibancadas, predominando o elemento feminino, a pelouse encheu-se também de mais de cincoenta automóveis e de uma grande multidão, que não escondia o anseio de assistir a grande partida da tarde, o jogo de futebol entre os doutores e os contadores (A Semana, 09/07/1927, p.2).
            No entanto, com o advento da indústria e a crescente classe do operariado brasileiro, o futebol começou a ser difundido entre a massa. Assim, existia os times da elite e os times populares, o que poderia ser traduzido em “amadorismo x profissionalismo”. Para a elite, o futebol era um entretenimento, nada de profissão; o que para alguns indivíduos das classes mais baixas não era realidade. Pois, muitos deles viam neste esporte uma modalidade profissional, séria, uma fonte de renda. Com isso, a partir do final da década de 20 e dos anos 30, que tinha em pauta a questão da “identidade nacional” o futebol foi sendo cada vez mais incorporado ao povo. Tanto que, nos anos 30, o craque da época era Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, um afro-descendente que foi artilheiro na Copa de 1938. Era a democratização do esporte. Sendo válido lembrar que, a torcida também foi importante para a profissionalização do futebol, já que incentivavam os clubes, exigiam melhoras, pagavam ingressos e etc.
            Muito interessante perceber a dinâmica que o futebol brasileiro atravessou em pouco mais de um século. Outrora elitista, e agora popular.

Fonte: “Histórias do Futebol” (Arq. Pub. Est. SP), Lívia G. Magalhães, 2010.

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