ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 10 DE JUNHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI
É vísivel a paixão que o brasileiro
até hoje nutre pelo futebol. Mesmo sendo originário da Inglaterra, esta
modalidade esportiva se adaptou à cultura brasileira e hoje é praticamente um
“símbolo” quando se fala em “Brasil”. Isto porque, o futebol é um esporte de
massa, acessível ao brasileiro desde a infância e praticado por muitos, mesmo
que amador. Mas, será que sempre foi assim? Sempre foi um esporte popular?
O “pai do futebol brasileiro” foi
Charles Miller, filho de um industrial inglês, que, depois de uma temporada de
estudos na Inglaterra, trouxe o futebol para o Brasil. Miller foi responsável
pela introdução do futebol competitivo no país e das regras do jogo, fatores
essencias para a sua expansão. A partir de então, o futebol passou a ocupar um
patamar de “diversão” à elite brasileira (aquela ligada a região sudeste, mais
próspera na economia). A elite inglesa (industrial) e a cafeeira (agrária),
principalmente a de São Paulo, passaram a ter mais um espaço de
confraternização nos jogos de futebol. Com o incentivo de Oscar Cox, surgiram
as primeiras ligas e clubes de futebol no RJ (“Fluminense”, 1902) e em SP
(“Paulistano”, que na década de 30 deu origem ao atual São Paulo F. C.).
Reuniam-se homens e até mulheres em
estádios armados para assistir jogos amadores de futebol. Ali eram os espaços
de sociabilidade da elite, um verdadeiro passatempo. E a presença feminina na
platéia afirmava bem esta característica elitista do futebol primitivo no
Brasil. Em Barretos, isto não foi diferente, o primeiro clube futebolístico foi
montado em 1907, mas, vários campeonatos amadores eram realizados na cidade,
principalmente alguns em prol de instituições de caridade como a Santa Casa. É
só observar as expressões de “modernidade” utilizadas numa reportagem da época:
“Alcançou real
sucesso o grande festival esportivo, em bôa hora lembrado pela senhorita
Caridosa, e que se realizou no domingo ultimo, a tarde, no Estadio do Barretos
Futebol Clube em beneficio da Santa Casa de Misericórdia desta cidade. Ás 14
horas, já estavam replectas as archibancadas, predominando o elemento
feminino, a pelouse encheu-se também de mais de cincoenta automóveis
e de uma grande multidão, que não escondia o anseio de assistir a grande
partida da tarde, o jogo de futebol entre os doutores e os contadores (A Semana, 09/07/1927, p.2).
No
entanto, com o advento da indústria e a crescente classe do operariado
brasileiro, o futebol começou a ser difundido entre a massa. Assim, existia os
times da elite e os times populares, o que poderia ser traduzido em “amadorismo
x profissionalismo”. Para a elite, o futebol era um entretenimento, nada de
profissão; o que para alguns indivíduos das classes mais baixas não era
realidade. Pois, muitos deles viam neste esporte uma modalidade profissional,
séria, uma fonte de renda. Com isso, a partir do final da década de 20 e dos
anos 30, que tinha em pauta a questão da “identidade nacional” o futebol foi
sendo cada vez mais incorporado ao povo. Tanto que, nos anos 30, o craque da
época era Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, um afro-descendente que foi
artilheiro na Copa de 1938. Era a democratização do esporte. Sendo válido
lembrar que, a torcida também foi importante para a profissionalização do
futebol, já que incentivavam os clubes, exigiam melhoras, pagavam ingressos e
etc.
Muito
interessante perceber a dinâmica que o futebol brasileiro atravessou em pouco
mais de um século. Outrora elitista, e agora popular.
Fonte: “Histórias do Futebol” (Arq.
Pub. Est. SP), Lívia G. Magalhães, 2010.
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