ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 16 DE SETEMBRO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI
É impressionante como a República no
Brasil no final do século XIX e início do XX tem sido um tema muito recorrente
em peças de teatro, cinemas e televisão. Inclusive, na última semana, se
iniciou mais uma novela “de época”, denominada “Lado a Lado” pela emissora Rede
Globo. Já é perceptível que essa, como outras novelas passadas, trata de um
romance fictício tendo como pano de fundo o cenário da capital do Brasil, o Rio
de Janeiro, nos seus primeiros anos como sede da República brasileira.
Por mais que a novela retrate uma
narração fictícia, o cenário e a fotografia revelam o visual da época e isso
que pode se tornar um atrativo para o estudo da História. A recente novela
retrata vários aspectos do ano de 1903 e 1904, sobretudo da política,
sociedade, economia e cultura da cidade carioca. Cada um em suas diferentes
faces.
A política é demonstrada tanto pelo lado
dos republicanos que subiram ao poder, quanto pelos políticos que decliniram
por ficar ao lado da monarquia, muitos perderam status e dinheiro. A economia também é salientada pelas exportações
de café que estavam a todo vapor naquela época, bem como as ferrovias que era o
meio de locomoção do “ouro verde” brasileiro. A sociedade é o aspecto mais bem
retratado na novela, por demonstrar, sobretudo, a desigualdade social daquele
período, desde as posições sociais até as diferenças de trabalho, moradia e
vestimentas. A cultura também se enquadra nesse fator de diferenciação, uma vez
que há um grande afastamento entre a cultura popular (rodeada de tradições
religiosas, africanidades e crenças) e a cultura erudita (regida pelos moldes
franceses). Essa vertente cultural é o que deixa o diálogo “presente-passado”
mais interessante. Afinal, aspectos que faziam parte da cultura popular naquela
época, hoje já veiculam na elite da sociedade, como é o caso do carnaval. Por
outro lado, hábitos da classe mais rica, como jogar “foot-ball”, atualmente é
parte da cultura popular brasileira.
Outras características importantes
presentes na história da República brasileira e que são retratadas na novela
são as pressões que a população marginalizada que vivia no centro Rio de
Janeiro sofreu em nome da “modernização”. A antiga capital do Brasil, aos olhos
da recém República, passava por reformas urbanas para se tornar o “cartão
postal” do Brasil. Era como se o Rio de Janeiro se transformasse numa
verdadeira “Paris”, com avenidas largas, iluminadas, ajardinadas e enfeitadas
com belos palacetes dos barões do café e dos recentes industriais brasileiros.
Mas, para isso se concretizar, era necessário “passar por cima” da população
pobre que vivia nos cortiços do centro carioca. Além disso, também se
encontrava a “preocupação” de higienizar a cidade, desinfectando locais
insalubres e vacinando a população pobre, à força diga-se de passagem.
Foi neste cenário que nasceu a República
no Brasil, pelo menos na capital. E é com olhares críticos e curiosos que
podemos enxergá-la numa novela. Pensemos.
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