ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 15 DE JULHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI
É certo que Coelho Neto não seja um
nome muito comum nas conversas dos jovens hoje em dia. O mesmo não se pode
dizer das pessoas mais velhas que viveram em Barretos, pois, certamente algumas
delas já ouviram falar das visitas que este cidadão fazia à cidade. Pode ser
que estas pessoas não foram testemunhas oculares das passagens de Coelho Neto
em Barretos, uma vez que isso se deu na década de 20, mas pelo menos já
escutaram histórias a seu respeito contadas por seus antepassados. Deste modo,
seria interessante “rever” um pouco de uma de suas visitas que, segundo Osório
Rocha, foi “o maior acontecimento de setembro, para não dizer do ano de 1921”.
Chamava-se Henrique Maximiano Coelho
Neto, nascera em 1864 no Maranhão, mas cedo mudou-se para o Rio de Janeiro. Ali
ingressou na faculdade de Medicina, mas terminou o curso, depois entrou para a
faculdade de Direito em São Paulo. Nesta época, pelos idos de 1883, participou
do movimento abolicionista e republicano, inclusive mantendo contato com José
do Patrocínio. De volta ao Rio de Janeiro, passou a escrever na imprensa
carioca, onde desenvolveu mais a sua arte da escrita, e chegou até a ocupar
cargos políticos. Mais tarde, tornou-se professor da Escola Nacional de Belas
Artes, onde entrou em contato com o teatro, e foi membro da Academia Brasileira
de Letras. Já conhecido, Coelho Neto escrevia romances literários que, apesar
de não se prender a um só gênero, sempre foi rotulado como “parnasiano”.
É incrível como a vida intelectual e
profissional do escritor Coelho Neto se assemelhava com certas personalidades
de Barretos, como, por exemplo, Silvestre de Lima (que não estava mais em
Barretos nos anos 20). Por este motivo, uma personalidade como Coelho Neto,
quando visitava a cidade, representava não só possíveis acordos políticos, como
também uma aliança intelectual. A elite barretense, no início do século XX,
sempre recebia essas personagens com a maior pompa. Osório Rocha narra que,
quando Coelho Neto chegou à cidade, em 10/9/1921, foi recebido festivamente na
Estação Paulista pelo prefeito Antonio Olympio e várias pessoas. A banda de
música “Orphelina Barretense” executou uma peça e os alunos do Ginásio
Sírio-Brasileiro cantaram um hino patriótico ao visitante. Em seguida, depois
de repousar e fazer refeição nas residências de homens como Antonio Olympio e
Emilio José Pinto – seu grande amigo, Coelho Neto visitou instituições públicas
e particulares como o Grupo Escolar, a Santa Casa (ali ele inaugurou o livro de
visitantes), o Grêmio Literário e Recreativo (onde inaugurou o retrato do
visitante em sua biblioteca), o Sport Clube e o hipódromo. Tudo isso foi
cercado de discursos e poesias recitadas pelo escritor, que, todas as vezes que
vinha a Barretos era ovacionado por tal público.
Desta maneira, os lugares de
sociabilidade da elite barretense formavam uma espécie de “passagem” aos homens
letrados e políticos do Brasil, como era Coelho Neto. Tudo isso para demonstrar
que Barretos também tinha os seus locais de “modernidade” e “civilização”. Ali,
ouviam-se os romances literários, os discuros políticos e as poesias; o que era
muito comum na época. Estes costumes, que faziam parte da cultura letrada,
podem ser interessantes aos olhos do historiador de hoje, que contempla-os como
verdadeiras representações ideológicas.
Fonte: Osório Rocha, “Reminiscências”, vol. II.
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