ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 1 DE JULHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI
Aos olhos de um historiador, ou até
mesmo de um morador mais “saudosista”, é incrível ver como Barretos possui
belos prédios antigos, prédios que de alguma maneira contam a nossa história.
Estes prédios, desde que estudados histórica, arquitetônica ou culturalmente,
em conjunto, podem nos dizer muito sobre uma época, um ciclo ou uma memória
coletiva. São resquícios peculiares de uma cidade, e, por isso, são úteis e
devem ser preservados.
A antiga “Estação da Cia Paulista de
Estrada de Ferro”, atual “Estação Cultura”, é um desses prédios que faz
qualquer barretense se orgulhar do patrimônio da cidade. Porém, é interessante
notar que o prédio da estação é “um” dentro de todo o patrimônio histórico
ferroviário que se localiza no alto da avenida 3, entre o perímetro das ruas
14, 16 e 18. Naquele local, é possível perceber componentes materiais da época
de ouro do “trem”. O prédio da estação, a Praça Conselheiro Antonio Prado, as
casas dos funcionários da antiga Cia Paulista (muitas ainda possuem a antiga
numeração), o barracão (que, se revitalizado, poderia se transformar em alguma
instituição), os vagões; enfim, todos estes, em conjunto, são prédios que
compõem o patrimônio ferroviário de Barretos. Um patrimônio que começou a ser
construído em 1909, reconstruído em 1929 (e outros anos) e reformado em 2008.
Cada canto daquele “sítio histórico”
da ferrovia reserva em si uma memória particular que constrói parte da história
da cidade. Os depoimentos dos antigos funcionários e maquinistas podem revelar
detalhes cotidianos, o desenho arquitetônico das fachadas falam por si só da
modernidade da época, os paralelepípedos da rua demonstram aspectos da cidade,
a famosa grade com a marca do tiro na época da Revolução de 1932 e detalhes
como o “relógio” podem desvendar mistérios. Ah, o relógio, esse sim possui uma
história interessante!
Hoje, quem passa em frente à Estação
Cultura, pode não se dar conta de que um belo relógio enfeita o topo da
fachada. Um verdadeiro relógio “Michelini”, italiano, e comum na época para
adornar os topos de prédios desse tipo. Acontece que, aquele relógio apresenta
algarismos romanos para orientar as horas e minutos e, quem passa por ali
despercebido, não percebe que o número 4 está representado por “IIII”, e não
por “IV”, como conhecemos. Quem repara isso, pode imaginar que se trata de um
erro, quando na verdade não é. Trata-se de uma característica da época que
aparecia em alguns relógios, principalmente os mais antigos. Existem algumas
hipóteses para explicar tal simbologia, mas uma delas é deveras interessante:
diz-se que, durante a Idade Média, as catedrais medievais adotaram o algarismo
“IIII” porque o outro símbolo (“IV”) lembrava “JU”, já que no alfabeto latim
I=J e V=U. Assim, este algaraismo “IV” parecia lembrar a palavra “JUpiter”, e
este era um antigo “deus romano”, o qual seu culto era considerado um paganismo
pela igreja naquela época. Lembrando que isso é uma hipótese, outra perspectiva
diz que a troca foi simplesmente por questão estética.
Histórias como estas deveriam ser
mais instigadas, revistas e disseminadas entre os barretenses. Tudo isso para
que estes passem a enxergar que não só o prédio da estação possui “história” e
sim todo o patrimônio que o cerca. Cada canto, cada detalhe, pode revelar uma
pergunta, uma pesquisa ou até uma boa conversa. E é isso que torna o patrimônio
ferroviário tão importante. Pensemos.
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