sábado, 29 de setembro de 2012

O PATRIMÔNIO DA ESTAÇÃO

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 1 DE JULHO DE 2012 PELA PROFª KARLA O. ARMANI


            Aos olhos de um historiador, ou até mesmo de um morador mais “saudosista”, é incrível ver como Barretos possui belos prédios antigos, prédios que de alguma maneira contam a nossa história. Estes prédios, desde que estudados histórica, arquitetônica ou culturalmente, em conjunto, podem nos dizer muito sobre uma época, um ciclo ou uma memória coletiva. São resquícios peculiares de uma cidade, e, por isso, são úteis e devem ser preservados.
            A antiga “Estação da Cia Paulista de Estrada de Ferro”, atual “Estação Cultura”, é um desses prédios que faz qualquer barretense se orgulhar do patrimônio da cidade. Porém, é interessante notar que o prédio da estação é “um” dentro de todo o patrimônio histórico ferroviário que se localiza no alto da avenida 3, entre o perímetro das ruas 14, 16 e 18. Naquele local, é possível perceber componentes materiais da época de ouro do “trem”. O prédio da estação, a Praça Conselheiro Antonio Prado, as casas dos funcionários da antiga Cia Paulista (muitas ainda possuem a antiga numeração), o barracão (que, se revitalizado, poderia se transformar em alguma instituição), os vagões; enfim, todos estes, em conjunto, são prédios que compõem o patrimônio ferroviário de Barretos. Um patrimônio que começou a ser construído em 1909, reconstruído em 1929 (e outros anos) e reformado em 2008.
            Cada canto daquele “sítio histórico” da ferrovia reserva em si uma memória particular que constrói parte da história da cidade. Os depoimentos dos antigos funcionários e maquinistas podem revelar detalhes cotidianos, o desenho arquitetônico das fachadas falam por si só da modernidade da época, os paralelepípedos da rua demonstram aspectos da cidade, a famosa grade com a marca do tiro na época da Revolução de 1932 e detalhes como o “relógio” podem desvendar mistérios. Ah, o relógio, esse sim possui uma história interessante!
            Hoje, quem passa em frente à Estação Cultura, pode não se dar conta de que um belo relógio enfeita o topo da fachada. Um verdadeiro relógio “Michelini”, italiano, e comum na época para adornar os topos de prédios desse tipo. Acontece que, aquele relógio apresenta algarismos romanos para orientar as horas e minutos e, quem passa por ali despercebido, não percebe que o número 4 está representado por “IIII”, e não por “IV”, como conhecemos. Quem repara isso, pode imaginar que se trata de um erro, quando na verdade não é. Trata-se de uma característica da época que aparecia em alguns relógios, principalmente os mais antigos. Existem algumas hipóteses para explicar tal simbologia, mas uma delas é deveras interessante: diz-se que, durante a Idade Média, as catedrais medievais adotaram o algarismo “IIII” porque o outro símbolo (“IV”) lembrava “JU”, já que no alfabeto latim I=J e V=U. Assim, este algaraismo “IV” parecia lembrar a palavra “JUpiter”, e este era um antigo “deus romano”, o qual seu culto era considerado um paganismo pela igreja naquela época. Lembrando que isso é uma hipótese, outra perspectiva diz que a troca foi simplesmente por questão estética.
            Histórias como estas deveriam ser mais instigadas, revistas e disseminadas entre os barretenses. Tudo isso para que estes passem a enxergar que não só o prédio da estação possui “história” e sim todo o patrimônio que o cerca. Cada canto, cada detalhe, pode revelar uma pergunta, uma pesquisa ou até uma boa conversa. E é isso que torna o patrimônio ferroviário tão importante. Pensemos.

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