ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM JULHO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS"
Na semana passada falamos sobre a necessidade de se
estudar sobre aspectos posteriores à Revolução de 1932. Como exemplo, citamos a
questão do discurso paulista criado após o conflito que enaltecia São Paulo
como o estado de um glorioso passado bandeirante e um presente de prosperidade
econômica. Criadores destes discursos, intelectuais paulistas de diversas
localidades disseminavam essas ideias principalmente em obras literárias
publicadas já na década de 30. E em Barretos, tivemos um destes intelectuais
(inclusive aqui enterrado), chamava-se Delcides de Carvalho.
Nesta cidade, Delcides fora prefeito de abril a agosto de
1931, além de ao longo de sua trajetória ter sido comerciante (dono da Livraria
Carvalho) e sócio de casa bancária. Foi ainda participante de importantes
instituições como a Santa Casa e a União dos Fazendeiros e Invernistas do Oeste
de SP. Mas não foi com seu nome que publicara uma das maiores obras da
intelectualidade paulista após a Revolução de 1932; assumiu para tal o
pseudônimo de Antoine Renard (numa época de ditadura varguista).
Com o título “São Paulo é Isto!”, Delcides escreveu uma
narrativa como se fosse um francês que vislumbrava-se com as riquezas do estado
de São Paulo. A obra é dividida em
três partes, que pelo título demonstram a validade de um discurso poético e
altamente ideológico ao povo paulista: “A riqueza econômica de S. Paulo”, “A
alma cívica paulista” e “A epopeia dos bandeirantes”.
É na segunda parte da obra que Delcides disserta sobre a
Revolução de 1932 como uma luta que, sobretudo, teria trazido ao paulista a
identidade de um povo com um passado em comum (os bandeirantes que teriam
“povoado” o Brasil) e de um presente de riquezas econômicas. Em seu próprio
punho, dizia sobre o conflito: “A luta
inicia-se, tremenda, em todos os sectores, sob o metralhar incessante e
atordoador do inimigo. Os bisonhos soldados da lei recebem todos o seu baptismo
de fogo. Nenhum animo se abate! Ao contrário, a fumaça da pólvora, o troar dos
canhões e a saraivada das balas os encorajam ainda mais para a cruenta peleja,
como se o espírito dos seus ancestrais bandeirantes, formando á sua retaguarda,
alli estivesse a incita-los a todos os arrojos e ás mais temerarias aventuras”
(p. 106).
Na próxima semana falaremos mais dessa obra, e de sua
contribuição ao movimento do discurso bandeirante.
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