sábado, 28 de abril de 2018

DELCIDES DE CARVALHO, UM INTELECTUAL PAULISTA (PARTE I)

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM  JULHO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" 


            Na semana passada falamos sobre a necessidade de se estudar sobre aspectos posteriores à Revolução de 1932. Como exemplo, citamos a questão do discurso paulista criado após o conflito que enaltecia São Paulo como o estado de um glorioso passado bandeirante e um presente de prosperidade econômica. Criadores destes discursos, intelectuais paulistas de diversas localidades disseminavam essas ideias principalmente em obras literárias publicadas já na década de 30. E em Barretos, tivemos um destes intelectuais (inclusive aqui enterrado), chamava-se Delcides de Carvalho.
            Nesta cidade, Delcides fora prefeito de abril a agosto de 1931, além de ao longo de sua trajetória ter sido comerciante (dono da Livraria Carvalho) e sócio de casa bancária. Foi ainda participante de importantes instituições como a Santa Casa e a União dos Fazendeiros e Invernistas do Oeste de SP. Mas não foi com seu nome que publicara uma das maiores obras da intelectualidade paulista após a Revolução de 1932; assumiu para tal o pseudônimo de Antoine Renard (numa época de ditadura varguista).
            Com o título “São Paulo é Isto!”, Delcides escreveu uma narrativa como se fosse um francês que vislumbrava-se com as riquezas do estado de São Paulo.     A obra é dividida em três partes, que pelo título demonstram a validade de um discurso poético e altamente ideológico ao povo paulista: “A riqueza econômica de S. Paulo”, “A alma cívica paulista” e “A epopeia dos bandeirantes”.
            É na segunda parte da obra que Delcides disserta sobre a Revolução de 1932 como uma luta que, sobretudo, teria trazido ao paulista a identidade de um povo com um passado em comum (os bandeirantes que teriam “povoado” o Brasil) e de um presente de riquezas econômicas. Em seu próprio punho, dizia sobre o conflito: “A luta inicia-se, tremenda, em todos os sectores, sob o metralhar incessante e atordoador do inimigo. Os bisonhos soldados da lei recebem todos o seu baptismo de fogo. Nenhum animo se abate! Ao contrário, a fumaça da pólvora, o troar dos canhões e a saraivada das balas os encorajam ainda mais para a cruenta peleja, como se o espírito dos seus ancestrais bandeirantes, formando á sua retaguarda, alli estivesse a incita-los a todos os arrojos e ás mais temerarias aventuras” (p. 106).
            Na próxima semana falaremos mais dessa obra, e de sua contribuição ao movimento do discurso bandeirante.




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