ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM OUTUBRO DE 2015, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS"
Todos os dias os noticiários apontam as ondas
imigratórias que a Europa vem recebendo da conflituosa região da Síria. São
notas de passagens perigosas, números alarmantes de mortes e falta de
informações sobre os destinos daqueles que deixam sua terra em guerra na
esperança de uma vida pacificada.
Pois bem, a imigração síria e todas suas consequências
nos fazem recordar (e não comparar) de períodos da história do Brasil em que
também milhões de imigrantes foram recebidos e estimulados a se fixar no país.
O final do século XIX foi a principal época deste fenômeno imigratório por
conta da necessidade de mão-de-obra para as lavouras de café no sudeste do
Brasil. No entanto, se reduzirmos mais a escala da história, veremos que a
nossa cidade de Barretos também foi receptora (e incentivadora) de imigrantes
para servirem como força de trabalho à primeira empresa frigorífica do Brasil,
que mais tarde passara a denominar-se Frigorífico Anglo.
Acerca deste assunto, a saudosa historiadora Célia Aiélo
publicou sua tese de mestrado “Perfil dos Operários do Frigorífico Anglo de
Barretos – 1927/1935” (Unicampo, 2002). Nesta pesquisa, Célia brilhantemente
explana as condições de vida e trabalho, salários, atribuições e uma série de
referências sobre os imigrantes que trabalhavam no frigorífico. No entanto, o
destaque da publicação vai para o final, em que é revelado algo interessante
que muitos barretenses talvez desconheçam: a nacionalidade da maioria dos
trabalhadores imigrantes da empresa, os lituanos.
Sim, centenas de lituanos trabalhavam, cultivavam suas
tradições e viviam na vila operária. Eram imigrantes originários de um país em
conflito, de um tempo em que os países europeus se digladiavam no totalitarismo
e em conquistas fanáticas de territórios. O povo lituano sofria com os domínios
da Alemanha, Rússia, URSS, Polônia e outros. Foi assim, e estimulados por
propagandas ilusórias, que se aventuravam a vir para o Brasil e centenas deles
acabavam trabalhando em fazendas e depois vieram para Barretos. O trabalho de Célia
ainda denota sobre condições de vida, organizações e costumes deste povo e nos
instiga a conhecer muito mais sobre o assunto.
Logo, as imigrações, apesar de muitas vezes serem
trágicas pelas condições em que ocorrem, fazem parte de vários períodos da História
e a todo momento explodem em cada canto do planeta. E Barretos também viveu a
imigração e a transformou em História.
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