quarta-feira, 25 de abril de 2018

NOVELA “LADO A LADO”


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM MARÇO DE 2013, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS"

            A última semana que se findou, veio para fechar os últimos capítulos da novela “Lado a Lado” da Rede Globo de Televisão. Uma novela que retratou o período inicial do século XX na então capital do Brasil, Rio de Janeiro, dando foco dialeticamente à modernidade e a exclusão social dos variados personagens ali representados. Por tratar de tantas temáticas importantes da história do Brasil, de maneira fictícia, a trama escrita por João Ximenes merece ganhar algumas reflexões neste espaço semanalmente dedicado à História.
Além do pano de fundo histórico, a novela deve receber elogios principalmente no quesito “linguagem imagética”. Como se trata de uma novela, o aspecto visual, ou seja, cenário, fotografia e planos de projeção são os fatores que dão vida à proposta dos autores. De nada adianta ter um bom roteiro, um interessante período histórico a ser retratado, se não se pode contar com bons produtores, diretores e elenco. Deste modo, o que mais analisamos não é o conteúdo histórico em si, mesmo porque isso seria errôneo, já que a proposta de uma novela não é retratar “a” época, mas sim usá-la para tratar de uma estória fictícia, ou no máximo baseada em fatos reais.
Mesmo assim, a novela se propôs a tematizar assuntos importantes do período, inclusive com algumas passagens que verdadeiramente aconteceram (como o jogador negro que pintou o rosto de branco na partida de futebol). Feminismo, divórcio, abolição, republicanismo, modernidade, reforma urbana, políticas de higienismo, carnaval, futebol, samba, foram alguns assuntos trabalhados ao longo da trama; não de maneira fiel ao passado, mas incurtidos na vida de certos personagens. Acontecimentos históricos também foram pincelados, tais como o “bota-abaixo” dos cortiços, a Revolta da Vacina e a Revolta da Chibata (dos marinheiros). Tudo isso serviu como um ótimo cenário de imaginação do passado, já que a tão famosa “rua do Ouvidor”, com suas casas comerciais, restaurantes, teatros, tipografias, era a paisagem principal da trama.
Os protagonistas da novela foram dois casais, que apesar de distoaram na condição social, apresentaram-se como modernos demais para a época. A personagem “Laura” nos fez rever a luta pela emancipação feminina, quando a mulher ainda não tinha direito ao voto (apesar de compreender assuntos da política e sociedade) e passava por preconceitos em relação ao divórcio. Seu marido, “Edgar”, representava a classe de intelectuais liberais (advogado) como um homem moderno tanto em suas atitudes, quanto em relação à mulher. “Isabel”, por sua vez, revela o estigma da mulher negra “mãe solteira” e “artista”; três condições marginalizantes da época. Seu parceiro, “José Maria”, veio para mostrar a beleza e a importância da cultura negra para o país, principalmente com o samba, a capoeira e o futebol (apesar deste ser originalmente da elite). Outros personagens, porém, representam o conservadorismo como a sra. Constância, que, baronesa nos tempos do Império, reluta em aceitar os novos ares vindos com a República.
Enfim, “Lado a Lado”, com ou sem críticas, se comportou como uma novela que respeitou a época, e soube usá-la como pano de fundo para uma trama atraente e cativante. De modo que nos proporcionou um ótimo cenário de imaginação de como era a nossa capital há mais de cem anos atrás.

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