ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM MARÇO DE 2013, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS"
A última semana que se findou, veio
para fechar os últimos capítulos da novela “Lado a Lado” da Rede Globo de
Televisão. Uma novela que retratou o período inicial do século XX na então
capital do Brasil, Rio de Janeiro, dando foco dialeticamente à modernidade e a
exclusão social dos variados personagens ali representados. Por tratar de
tantas temáticas importantes da história do Brasil, de maneira fictícia, a
trama escrita por João Ximenes
merece ganhar algumas reflexões neste espaço semanalmente dedicado à História.
Além do pano de fundo histórico, a novela
deve receber elogios principalmente no quesito “linguagem imagética”. Como se
trata de uma novela, o aspecto visual, ou seja, cenário, fotografia e planos de
projeção são os fatores que dão vida à proposta dos autores. De nada adianta
ter um bom roteiro, um interessante período histórico a ser retratado, se não
se pode contar com bons produtores, diretores e elenco. Deste modo, o que mais
analisamos não é o conteúdo histórico em si, mesmo porque isso seria errôneo,
já que a proposta de uma novela não é retratar “a” época, mas sim usá-la para
tratar de uma estória fictícia, ou no máximo baseada em fatos reais.
Mesmo assim, a novela se propôs a
tematizar assuntos importantes do período, inclusive com algumas passagens que
verdadeiramente aconteceram (como o jogador negro que pintou o rosto de branco
na partida de futebol). Feminismo, divórcio, abolição, republicanismo,
modernidade, reforma urbana, políticas de higienismo, carnaval, futebol, samba,
foram alguns assuntos trabalhados ao longo da trama; não de maneira fiel ao
passado, mas incurtidos na vida de certos
personagens. Acontecimentos históricos também foram pincelados, tais como o
“bota-abaixo” dos cortiços, a Revolta da Vacina e a Revolta da Chibata (dos
marinheiros). Tudo isso serviu como um ótimo cenário de imaginação do passado,
já que a tão famosa “rua do Ouvidor”, com suas casas comerciais, restaurantes,
teatros, tipografias, era a paisagem principal da trama.
Os protagonistas da novela foram dois
casais, que apesar de distoaram na condição social, apresentaram-se como
modernos demais para a época. A personagem “Laura” nos fez rever a luta pela
emancipação feminina, quando a mulher ainda não tinha direito ao voto (apesar
de compreender assuntos da política e sociedade) e passava por preconceitos em
relação ao divórcio. Seu marido, “Edgar”, representava a classe de intelectuais
liberais (advogado) como um homem moderno tanto em suas atitudes, quanto em
relação à mulher. “Isabel”, por sua vez, revela o estigma da mulher negra “mãe
solteira” e “artista”; três condições marginalizantes da época. Seu parceiro, “José
Maria”, veio para mostrar a beleza e a importância da cultura negra para o
país, principalmente com o samba, a capoeira e o futebol (apesar deste ser
originalmente da elite). Outros personagens, porém, representam o
conservadorismo como a sra. Constância, que, baronesa nos tempos do Império,
reluta em aceitar os novos ares vindos com a República.
Enfim, “Lado a Lado”, com ou sem críticas,
se comportou como uma novela que respeitou a época, e soube usá-la como pano de
fundo para uma trama atraente e cativante. De modo que nos proporcionou um
ótimo cenário de imaginação de como era a nossa capital há mais de cem anos
atrás.
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