quarta-feira, 25 de abril de 2018

PESQUISA SOBRE A ZONA DO MERETRÍCIO EM BARRETOS


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM (4?) DE FEVEREIRO DE 2013, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS"

            No dia 26 de janeiro, na Academia Barretense de Cultura, foi realizada a palestra “O submundo social: glamour, sedução, perdição” de autoria do mais novo historiador de Barretos, José Antonio Merenda. A palestra foi fruto do Trabalho de Conclusão de Curso defendido por Merenda em 2012, ano em que se formou a primeira turma do curso de História da Faculdade Barretos. O trabalho de Merenda se revela importante para a história de Barretos pois trata de um assunto por muito tempo anônimo na ciência histórica, mas que agora é pesquisado não só pela história social, como também pela ótica da história local: a prostituição, seu imaginário e o contexto da sociedade.
            Merenda analisou os períodos do auge e da decadência da prostituição em Barretos, desde o final do século XIX até as décadas de 1960 e 1970. Segundo sua avaliação, os pilares que sustentaram por tanto tempo esta atividade localmene foram a “sociedade patriarcal e machista” e o “ciclo econômico da pecuária de corte”.
Para explicar esta dinâmica, o pesquisador estudou quem era a “mulher” e o “homem” dentro da sociedade patriarcal. Sob a mulher pesavam os discursos religiosos, médicos, do Estado e da imprensa, em que “mulher honesta” era aquela do lar, dos filhos, esposa e mãe. Caso acontecesse algo que a desviasse deste caminho, como a perda da virgindade, por exemplo, a mulher era expulsa de casa, e sem apoio acabava rumando à prostituição, “um mal necessário” como se pensava na época. Já o homem dentro desta sociedade, tinha um caminho completamente diferente, uma vez que sua iniciação sexual acontecia com a prostituta, muitas vezes, orientada pelo próprio pai.
O ciclo econômico da pecuária em Barretos, desde fins do século XIX e início do XX, afetou de sobremaneira a sociedade da cidade. A partir de então, os cabarés que aqui se instalaram só se manteram por conta da população flutuante e do poder aquisitivo gerado pela pecuária dos coronéis e dos peões de boiadeiro que vinham com suas tropas e comitivas. Esse foi o auge da zona do meretrício em Barretos, que foi respectivamente instalada nas imediações do centro da cidade, no bairro “Outro Mundo” atrás dos trilhos da Paulista, e depois no Alvorada (em fins dos anos 50). Esta última mudança acompanhou o declínio da zona do meretrício na década de 60 e 70, tanto por contexto local com a opinião pública se manifestando contra a permanência das meretrizes no centro da cidade; quanto pela conjuntura da revolução sexual, a liberação feminina e a mudança de comportamento da sociedade, em que a mulher começou a ser mais independente e a virgindade não era mais um bem tão “precioso”.
De tudo isso, o mais interessante do trabalho do Merenda foram as citações sobre a zona do meretrício e suas principais personagens encontradas nas obras de Osório Rocha e Ruy Menezes. Historiadores atuais usando memorialistas tradicionais de Barretos, este é um ótimo caminho para a construção da história local!
Parabéns Merenda, que a sua obra se perpetue!


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