sábado, 28 de abril de 2018

VIAGENS E PENSAMENTOS DE BELÉN DE SÁRRAGA


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI MEDEIROS, EM 26 DE ABRIL DE 2018, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS", PÁGINA 2 
Fotografia do jornal “A Lanterna”, SP, 29/4/1911, p.1.
Acervo digital da Biblioteca Nacional

            Em edição anterior, expomos a passagem da pensadora espanhola Bélen de Sárraga por Barretos no ano de 1911, em conferência no Grêmio Literário e Recreativo. Pois bem, o fato é que Bélen de Sárraga não passou somente por Barretos. Foi uma verdadeira viajante pelas terras paulistas! Em 1911, a conferencista morava no Uruguai e foi recebida pelas grandes instituições maçônicas brasileiras, as quais organizaram suas viagens por S. Paulo. Ela já tinha vindo ao Brasil no ano anterior, 1910, onde realizou palestras no estado do Rio Grande do Sul, discursando sobre seus ideais feministas a públicos de elite a operários. Mas, foi em 1911 que sua passagem alcançou maiores plateias, pois visitou diversas cidades do interior paulista (diversas mesmo!).
            Seu maior legado foi o discurso de ação que pregava em suas conferências, as quais continham assuntos ousados para aquele início do século XX, muito além do feminismo. Quando chegou a São Paulo, em abril de 1911, alguns jornais descreveram o conteúdo de suas palestras. Como exemplo, o “Correio Paulistano” relatou os temas de suas três primeiras palestras na capital: “religião e livre pensamento”; “a igreja e a família”; “o jesuíta e o porvir da América”. Pelos títulos é perceptível o seu anticlericalismo, isto é, sua reação contra o que considerava dogmático dentro das religiões, principalmente o catolicismo ultramontano. Em resumo, Bélen defendia que as mulheres precisavam se afastar das superstições e crenças meramente sobrenaturais, para de que fato tomassem conhecimento racional do mundo e da vida; assim se emancipassem, e, como a célula básica da família, pudessem criar seus filhos aos olhos da razão. Criticando tanto os preceitos religiosos dogmáticos daquele período, eis o motivo de sua representação pela maçonaria da época.
Fato curioso foi o caso do jornal “A Lanterna: folha anti-clerical de combate”, o qual noticiava todo seu percurso no interior, enaltecendo seus pensamentos em reportagens calorosas. Inclusive, o mesmo jornal, em 24/6/1911 (p.2), reproduziu uma carta de José Hilário dos Santos, de Olímpia (vila de Barretos na época), solicitando a atenção do governo e a vinda de Sárraga para a região em virtude do fanatismo religioso que o “profeta” Francisco Miotti realizava por aqui; de modo que as palavras de Sárraga pudessem alertar sobre os males do fanatismo. Mas sua viagem para cá já estava marcada.
            Por certo que as ideias de Sárraga não se voltavam somente ao viés religioso, mas também político, social e cultural que poderiam obscurecer a liberdade feminina. Ela representava o racionalismo do início do século XX, sobretudo o feminino. Assuntos que, mesmo após um século, continuam a ser evidentes em nossa sociedade. Muito rotineiros, até. Necessários. Assim como as viagens e os pensamentos de Bélen de Sárraga.


Link do jornal para citação de fonte: http://www.odiarioonline.com.br/noticia/73648/VIAGENS-E-PENSAMENTOS-DE-BELEN-DE-SARRAGA

2 comentários:

Gugu Keller disse...

É só no olhar para trás que se vê o quê que ao aqui nos traz.
GK

Profª Karla disse...

Reflexão pertinente GK. Obrigada pela leitura! Seja sempre muito bem vindo por aqui!